imagem retirada da net
Há por estes dias um cheiro estranho no ar. Não me dei conta imediatamente de que cheiro se tratava. Passei então algum tempo de nariz no ar a ver se alguém tinha mudado de perfume, já que eu, sabia de certeza que não. Depois, equacionei se por perto teria sido instalada uma fábrica de sabonetes ou outro produto similar, mas também não era isso. Foi então que as vi, nas ruas, as magnolias já todas floridas a lembrar-nos que a Primavera já está quase aí. É isso! É o cheiro intenso da Primavera que me entra pelas narinas sem se fazer anunciar. Já não cheira a frio, nem ao vento agreste do norte. Já não cheira a terra sempre molhada e a humidade parece ter-se mudado para outras paragens. Há uma certa leveza no ar que me transporta, mesmo sem querer, para jardins relvados e esplanadas em frente ao mar, onde me deixo estar, fim de tarde adentro, com um casaco mais ligeiro. Um chá ainda vai bem, enquanto saboreio algumas páginas de um livro que interrompo por momentos, para fechar os olhos e sentir o calor do sol nas palpebras. O calor do sol nas palpebras faz levantar os cantos da boca. É uma reação automatica do corpo. Se alguem não acredita nisto, que experimente, porque depois de o fazer uma vez, vai fazer muitas e muitas vezes.
Nas ruas da cidade as árvores já não estão despidas. Vejo-as engalanadas de folhas verdes e florzinhas brancas ou cor-de-rosa, tão bonitas como jovens debutantes a preparem-se para a sua primeira festa. Antes delas já as magnólias floriram, belíssimas, sorridentes nas suas roupagens de gala. Foram as primeiras a dizer que a Primavera chegou. As suas flores são as mais madrugadoras da estação. É como se tivessem que ser elas a dar a partida para a corrida mais colorida de todas, a Primavera!
Das varandas pendem as Frésias, as Flores-de-mel, as Begónias e os Fetos. As ruas enchem-se de cor. É Primavera finalmente!, apetece gritar.
Gosto de andar pelas ruas e de ser obrigada a quase fechar os olhos pela claridade da tarde. Gosto que me apeteça sorrir por causa dela.
Nos jardins os lírios são de muitas cores e os amores-perfeitos, ai os amores-perfeitos!, são de delicado veludo, muito mais que perfeitos. Lindos! E eu gosto tanto!
Mas a verdade é que só acredito mesmo que a Primavera chegou quando dou o primeiro passeio pelos campos verdes, salpicados pelas flores silvestres, brancas e amarelas. Quando apanho uma papoila para pôr no cabelo e quando os fiapos de nuvens salpicam os céus de azul eléctrico.
Adoro esses passeios sem hora de voltar. Gosto tanto de andar devagar, respirar fundo, gosto de sentir a frescura da erva nas pernas e o aroma da terra misturado com o cheiro doce das flores. Faz-me bem pensar que o mundo se renova completamente! Que um bolbo feio se transforma numa bela flor miraculosamente. É bom perceber que uma árvore cujos braços estavam nus, erguidos aos céus numa suplica por vida, estão agora cobertos de cor e de frescura. Nos campos, antes nus, há agora vida a crescer, impaciente.
A natureza luxuriante é agora a rainha da festa. Aquela que todos querem ver e a quem todos dedicam honras especiais. É Primavera! É tempo de abrir as janelas e deixar entrar o ar fresco do dia nos pulmões saturados de bafio, é tempo de abrir a mente a novas ideias, é tempo de substituir sentimentos cinzentos por outros mais coloridos. É tempo de deixar o Inverno para trás e recomeçar, renovados, como se a vida começasse hoje outra vez.
Por Cláudia Moreira
Outras IDEIAS minhas
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