imagem retirada da net
tenho um poemário
onde guardo as palavras,
as ternuras e as saudades.
também guardo outras coisas
como fitas de seda azul
e cartas amarelecidas pelo tempo.
e morangos.
muito doces.
como os beijos que te roubo ao entardecer.
cláudia moreira
IMAGEM RETIRADA DA NET
não quero saber dos cabelos no ar,
em pé de guerra com a gravidade.
não quero saber das olheiras visíveis,
pela falta voluntária do negro do lápis.
também não importa a camisola aos quadrados,
que não condiz com coisa nenhuma.
importa o calor que fica dentro dos lençóis pela manhã.
mas sobretudo,
mais uns instantes, ainda que breves,
dentro da seda serena dos teus abraços.
cláudia moreira
devolvi a gramática à estante.
depois,
em escassos segundos desenhei um poema.
poucas palavras embrulhadas em ternura.
sem ligar à geometria dos versos mandei-to entregar.
imaginei o teu sorriso franco e o meu peito ficou mais quente.
então nesse instante o mundo pareceu-me um lugar melhor.
cláudia moreira
fotografia retirada da net
é a última folha e solta-se do ramo mais alto que um dia a fez folha.
desde a última primavera que eram inseparáveis, ramo e folha.
agora, solta de sua mãe, desce, num voo sereno, bailando até ao chão atapetado de outras folhas, que depois o vento se há-de encarregar de levar para longe.
os pássaros,esses, já muito antes tinham partido, num frenesim de mil asas a voar para o sul.
e a árvore ficou.
porque é o destino das árvores ficar.
as raizes que a prendem ao chão e a fazem segura para lá viverem as folhas, os frutos, os pássaros, os bichos-de-conta, as aranhas e ainda muitos outros seres que fazem dela refúgio, tambem a prendem a um destino muito próprio.
o de ficar. o de ficar sempre no mesmo lugar.
olho-a longamente e imagino-a triste por estar presa ao chão e não poder viajar como os pássaros e as folhas, correr mundo.
por não poder fugir para onde não há chuva nem frio, assim como os pássaros que ali passaram o verão.
fico ali à janela, porque a chuva me prende em casa.
olho a árvore muito tempo, tanto tempo que a chuva passou e depois voltou e o dia entardeceu.
afinal a árvore não está triste.
a árvore não está triste.
é uma certeza que tenho de repente. uma epifania se calhar.
a árvore tem uma função precisa e rigorosa.
está só à espera da próxima primavera para abrigar novas folhas e frutos.
e pássaros que farão novamente um terrivel chinfrim ali na rua.
e ainda os cães e gatos e os velhinhos parados na sua sombra.
até lá.
até lá eu vejo os seus braços de madeira erguidos no ar, balançando-se suavemente, devagarinho, numa dança só sua, feliz, tranquila, sentido a agua da chuva escorrendo pela sua pele rugosa, saboreando com prazer a frescura das manhãs, descansando no silêncio que habita ali agora.
afinal a árvore está feliz.
nenhuma impaciência, nenhuma solidão atormenta a sua alma de árvore.
ela sabe com precisão qual é a sua missão no mundo.
isso basta.
cláudia moreira
descobri que tenho o vicio de ti.
descobri que me estás tão entranhado na pele
como está a nicotina nos dedos dos fumadores.
e a minha boca sofre na tua ausência,
adoece
e perde o sorriso nas gavetas da saudade
depois, o sol pôe-se sem a promessa de voltar.
apenas fica a névoa que tudo cobre.
as ruas, os beirais das casas onde moram os pássaros
e até o sorriso das crianças
que de mão dada com a avó
passeiam o cão ao entardecer.
cláudia moreira
Para relembrar os dias maravilhosos que passei a caminho de Santiago...
Nas manhãs submersas pela neblina, sou feliz
Ouço os meus passos, um depois do outro, cadenciados
Olho as paisagens que se descobrem aos poucos
As árvores acordam com os meus passos
Sinto o cheiro a terra húmida a impregnar o ar
Também o cheiro da resina perfuma a Terra
Percebo o silêncio a ser quebrado pelo chilrear dos pássaros
Ouço o som da água a cair por entre pedras e terra
Sinto a frescura da manhã azul na pele e na alma
Os meus passos levam-me para a frente, sempre para a frente
Depois o sol, tímido, a aparecer devagar lá ao alto
Sinto-o derramar a sua luz nas montanhas e nas pedras
E o seu calor em mim e em todos os homens da Terra
Caminho sem esforço mesmo carregando o peso da vida.
Sou feliz numa simbiose perfeita com a natureza pulsante
Sinto-me muito viva e o sangue a corre-me nas veias, célere
Impossível travar o sorriso que se me desenha nos lábios
Dentro de mim um lago sereno de sentimentos apaziguados
Mais um passo e outro e outro e depois outro.
Tantos passos e não sei quando chegarei ao destino.
Mas que importa o tempo? Nada. Não importa nada.
No Caminho o tempo não existe, nem precisa.
Não há pressa de chegar.
Dentro de mim vive a certeza de que chegarei. E basta-me.
Enquanto isso, em cada passo, sou feliz por pertencer à Terra.
cláudia moreira - escrevi estas letras quando cheguei do Caminho Central de Santiago em 2010
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como sei que é amor?
simples.
o que sinto por ti
já não me cabe no peito.
transborda,
galga estradas,
leva tudo à frente até ser rio,
depois, um gigantesco oceano azul.
isso e a tremura indisfarçável nos meus lábios
no segundo exacto que antecede o nosso beijo.
cláudia moreira
foto minha
por tua causa fiz um poema
de sete linhas,
que entrelaço com os meus dedos
nos teus cabelos.
aperta-me no teu abraço, meu amor,
enquanto navego à deriva no teu peito
e descubro o rumo ao abrigo da tua boca.
cláudia moreira
Hoje com o destaque devia escrever algo especial, deveras inteligente, algo assim que fosse capaz de agarrar o leitor, não só hoje, mas para sempre. Algo tão bom capaz de tornar o novo leitor dependente deste espaço para todo o sempre.
Em vez disso, vou deixar aqui um poema que escrevi há uns dias e que me fez feliz ao escrever. Sim, porque é isso que importa por aqui, alegria na escrita, na partilha....tudo o resto...são feijões.
um dia,
e pouco importa que o céu esteja manchado de nuvens escuras,
saberás que o que me corre nas veias
e me percorre o corpo todo é mesmo o amor.
não um amor qualquer.
não aquele em que poderias tropeçar numa esquina,
apanhá-lo e guardar no bolso e depois esquecer,
como se esquecem moedas e papéis amarrotados.
mas o meu,
por ti.
aquele que que é maior e mais alto, nem sei bem,
mais colorido, mais doce e mais perfumado até, não sei,
algo mais do que aquilo que o Homem é capaz de descrever.
o meu amor,
aquele que um dia encontrei aninhado dentro do meu peito
e que só estava à espera de ti para se poder espalhar em mim.
cláudia moreira
e foi pela tua mão que subi os dois degraus.
a maquina, resfolegava já, impaciente, à espera
depois, sentaste-te ao meu lado.
fui tentando devorar as paisagens,
porque tenho olhos ávidos de conhecer mundo,
porém, sem sucesso.
na verdade, porque a tua mão fazia da minha
a mão mais feliz do mundo, dançando com ela,
enquanto via passar as pedras,
as árvores, as nuvens, os postes do telefone
e os pássaros a rasgar o céu.
mesmo as estações, perdidas nas serras,
destruídas pela passagem do tempo e das intempéries,
me pareciam as paisagens mais belas do mundo.
pelo menos, eu achei que sim,
que me pareciam as paisagens mais belas do mundo.
que outra coisa poderiam ser aos meus olhos felizes?
tenho de confessar que o calor que passava da tua mão
e chegava à minha de uma forma tão serena, tão intensa
me distraia da paisagem bucólica que passava ligeira na janela,
as paisagens mais belas do mundo,
eram quase nada,
quando a tua mão era tudo.
a tua mão na minha é que era tudo.
era nela que sonhava ver as paisagens mais belas do mundo
e era nela que queria viajar para sempre e até ao infinito
cláudia moreira
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi