Foi como se tivesse estado fechada numa masmorra
Foi como se nunca tivesse sentido o calor do sol
Nem o cheiro do mar
Nem a brisa do fim de tarde
Foi como se nunca tivesse sentido a força de um beijo
Nem a ternura de um abraço
Nem o amor inteiro num olhar
Foi como se nunca tivesse vivido
Depois,
Num dia de Abril, revoltada tirei as algemas
Cortei as grilhetas e explodi
Na violência do acto não ficou pedra sobre pedra
Pude então ver o mundo inteiro como nunca tinha o visto
Pude então senti-lo, absorve-lo, bebe-lo,
Um mundo inteiro só meu, inteiro só meu
As pessoas e as coisas e o sol e o mar
Estava livre finalmente livre para poder sentir
Sem paredes feitas de preconceito e ideias feitas
Sem falsos pudores, sem críticas destrutivas
Estava livre finalmente para poder VIVER
Pela liberdade
Pela verdade
Pela seriedade
Pela serenidade
É por tudo isto que luto sem descanso
Com as armas erguidas e a voz gritante
É por ela que não me calo nem amanso
É uma busca sem tréguas, incessante
Liberdade, cálice sagrado da vida
Que todos buscamos intensamente
Andas por ai ligeiramente perdida
Mas nunca no coração de quem a sente
Eu sinto-a, e um dia completamente livre eu hei-de ser
Não tenho muitas armas para lutar
Mas tenho alma e sei escrever
E será sempre essa a arma que irei usar
Sei que sou apenas um grão de areia
Levado pelo vento num imenso deserto
Mas se houver um apenas que me leia
Então já valeu a pena por certo
Escreverei até ter feridas nos dedos
No papel gravarei um grito, um testemunho
Libertarei palavras, vitórias e medos
Um livro sempre, um livro sempre em punho
imagem retirada da net
Liberdade
Na altura eu deveria ter cerca de seis meses. Talvez ainda nem gatinhasse, talvez ainda nem palrasse. Não andei de cravo ao peito, nem marchei nas ruas gritando a palavra de ordem: liberdade! No entanto, foi este dia que me permitiu ser hoje muito daquilo que sou. Sem os bravos de Abril, hoje viveria numa ditadura, num regime autoritário e egocêntrico. Viveria censurada. Viveria assustada. Viveria calada. Viveria torturada por uma maneira de governar capitalista e injusta.
Não me imagino a não poder dizer o que penso, o que sinto, seja isso a favor ou contra a forma de agir do governo. Não me imagino a não poder votar, a não ter uma palavra a dizer sobre quem nos governa. Não posso sequer imaginar viver num regime onde a policia nos controla os passos, não para nos proteger dos malfeitores, mas para nos oprimir, para verificar que não tenhamos ideias que sejam contra as ideias dos senhores governadores. Não me imagino a viver num pais onde nos querem moldar, tolher o pensamento, prender os movimentos.
Mesmo assim, muito mais poderia ser feito. Não vivemos numa ditadura, mas vivemos num país que atravessa um momento crítico. Cada dia vemos mais diferenças sociais, mais pobres, mais gente triste, mais desemprego. Talvez o dia de hoje seja um bom dia para pensar nisto. Embora eu saiba que ninguém com poderes para mudar alguma coisa me vai ler, não quero deixar de apelar ao universo, a deus, a quem for capaz de interceder juntos dos senhores do poder para que estes pensem bem se acham que o povo português está feliz, está vestido, está alimentado, está educado. Se todos têm o necessário para viver, se todos têm as mesmas oportunidades de estudar, as mesmas oportunidades de emprego, se todos tem acesso à saúde, à cultura, ao descanso. Abril não deve ser esquecido, não pode ser esquecido! Temos que o ter muito presente, para que não incorramos em erros do passado. Não deixemos que nos voltem a agrilhoar a voz!
Sou uma voz do povo, não muito audível, mas muitas como a minha, juntas, talvez seja possível fazer-se ouvir. Pelo menos eu tenho esperança nisso!
Viva a LIBERDADE!
imagem retirada da net
É sempre nesta altura do ano que a minha costela de hippie dá sinais de vida. Começa por ser um breve olhar, depois um sorriso aberto, a seguir um suspiro profundo, depois um ligeiro saltitar e por fim já este coração dá pulos à maluca! São estes os sintomas quando vejo passar uma velha caravana e lá dentro, um ou dois lobos solitários, de cabelo comprido, vários brincos, roupa velha que não condiz, sandálias artesanais e um olhar tranquilo. Confesso, pronto. Eu confesso que sinto inveja (saudável) dessas pessoas que não tem casa para pagar, nem contas da água, luz e condomínio. Que não tem quatro ou cinco assoalhadas para limpar. Que tudo o que precisam para viver e serem felizes cabe dentro daquele espaço pequenino. Mas acima de tudo, sinto que eles são felizes porque são livres. Que não estão amarrados aos bens materiais, às normas, aos preconceitos. Que não se importam de não ter mais móveis, mais um plasma ou dez pares de sapatos. Nem se importam que as pessoas os olhem como aberrações. E o dinheiro é apenas uma forma de pagar o pão do dia a dia. E que o modo de vida não é mais do que uma forma de sobreviver. Viajam pelo mundo, sem amarras, sem grilhetas. Sim, sinto uma certa inveja destas pessoas que não tem horário para entrar ao trabalho, nem hora para jantar. Que não precisam de relógio nem despertador. Que o tempo é todo deles. Sinto que o tempo é mais tempo quando não se tem pressa, que a beleza de um campo de flores é maior quando se pode parar e senti-lo e olha-lo, longamente, sem pressas, que o por do sol é mais belo quando não se tem nada à espera e tudo o que importa é o por do sol…. Começo a pensar nisto e já me imagino de cabelos ao vento, saia comprida e chinelos, num dia em que os termómetros marcam 35º, a J.J. aos berros no rádio roufenho, os miúdos atrás aos saltos, e todos em coro a tentar acompanhar a letra sem sucesso. E é nesta altura que vemos uma bela cascata e sem ter pressa, nem desejos de ir para mais lado nenhum, mergulhamos para um belo banho nessas águas cristalinas… Magnólia farta de estar aqui presa…
Foto de Rita Moreira
Abro as asas e deixo-me cair
No vazio, sem destino, a voar
Fecho os olhos para bem sentir
A brisa fina que me vem acarinhar
Voo livre pelo enorme céu aberto
Sem tecer mais pensamentos
E assim, nesse céu eu me liberto
De uma vida inteira de tormentos
Abro os olhos e vejo a imensidão
Da terra, do campo e do mar
A alma fremente de emoção
Saltita e não a consigo agarrar
Sinto o cheiro, a cor da natureza
E um sorriso abre-se em mim
Perante tanta e tão grande beleza
Ao ver o mundo pequeno assim
Voo no meio das árvores, das flores
Das abelhinhas e das mariposas
Com mil cheiros, com mil cores
Tantas coisas belas, maravilhosas
Feliz, de sorriso nos lábios, serena
Olhos abertos para tudo alcançar
Leve, mais leve do que uma pena
Pássaro eu quero para sempre ficar…
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi