...e de me entristecer com o que ouvi. Ontem faltou-me detergente da louça e fui ao supermercado. Como estava com o meu filho pedi-lhe que fosse ele lá buscar e eu esperei no carro, entretida com o livro que ando a ler. Pouco depois levantei os olhos do livro, porque ouvi uma mãe e dois filhos a saírem do supermercado e um deles amuado e a repetir sem parar:
- Tu não gostas de mim!
E a mãe dizia: gosto.
- Tu não gostas de mim porque não me compras o que eu quero!
Repetia o miúdo. O tom de voz era de birra de menino mimado.
Não pude deixar de ouvir e não pude deixar de olhar. Aquela jovem mãe de certeza que está a fazer o melhor que pode e sabe pelos filhos. E aquele miúdo é uma criança, ainda sem maturidade para saber que uma coisa não está ligada à outra. No entanto não pude deixar de me sentir chocada e triste. Desiludida também.
Afinal, que sociedade é esta em que vivemos? Que educação temos e damos? Que valores transmitimos? Quanto valem os sentimentos? E que adultos teremos no futuro? E de quem é a culpa?
Talvez a culpa deste exagero consumista em que vivemos seja dos pais porque não têm tempo para os filhos e substituem o amor pelos presentes. Talvez a culpa seja dos empresários que à custa de quererem vender os seus produtos a todo o custo usam e abusam das campanhas de marketing com que nos bombardeiam na rua, na televisão, nas revistas e em todo o lado. Talvez a culpa seja do progresso. Talvez nem seja culpa de ninguém e até fosse um miúdo mau feitio...Talvez não hajam culpados. Pelo menos culpados únicos. Talvez carreguemos todo um pouco essa culpa.
Fiquei a pensar nisso. Fiquei com o coração apertado a pensar no futuro de muitas das nossas crianças. Não estaria na hora de reverter um pouco as coisas? Contra mim falo...que também faço parte desta sociedade. Mas pensando bem...acho que sim, que estaria na hora de voltarmos a ensinar as crianças a brincarem ao botão, à macaca, ao lencinho, aos índios e aos cowboys. Se calhar está na hora de deixarmos de nos embalar pela televisão para esquecer o vazio de sentido que nos rodeia e optar pela leitura em conjunto com os nossos filhos ou deixá-los cozinhar connosco mesmo que se sujem e fazem disparates. Está na hora de voltar às coisas simples, ao pão com doce feito em casa e à limonada. talvez esteja na hora de mudar para que nos futuro não vejamos com tristeza os nossos filhos transformados em adultos tristes e inconformados.
Digo eu, que não sou versada em nada destes assuntos...
Há dias fiz 18 anos e embora não me sinta em nada diferente sei que algo está prestes a mudar. É vida de adulto agora, dizem-me. Penso nisso.
O que ouço à minha volta não é animador. Crise, falta de dinheiro, falta de oportunidades, desemprego, fome até. Assusta-me um pouco, mas não desanimo. Penso.
Estou prestes a terminar o 12º ano na área de informática, a área de que sempre gostei e na qual até acho que me safo bem. No entanto para seguir em frente deparo-me com vários problemas. Não por ordem de gravidade mas apenas a cronológica, o primeiro problema: o exame de acesso que deve ser o de matemática e para o qual não estou preparado. Não vale a pena dizerem-me que tivesse estudado porque não é só esse o problema. O único curso de informática na escola é um curso profissional e o nível da matemática infelizmente não está ao nível do exame de acesso ao ensino superior. Posto isto preciso de um explicador para o qual não tenho dinheiro porque cobram aquilo que um pobre não pode pagar. Esta é primeira barreira. Mesmo que a consiga ultrapassar vejo-me preocupado com a situação familiar. Sei que não possuímos rendimentos familiares para me manter a estudar, logo, preciso de um part-time para ajudar pelo menos a pagar as propinas. Talvez a minha mãe me alimente e vista por mais uns tempos… à custa de sacrifício, sei-o. Mas o curso de informática da escola pública aqui perto de casa é de cinco anos. Serão cinco anos de sacrifícios, penso. Penso e suspiro. Terei 23 anos quando acabar, se tudo correr muito bem. A minha mãe não terá nenhuma folga financeira, porque entretanto a minha irmã também estuda, e eu não terei um tostão para levar uma eventual namorada ao cinema. Suspiro. Depois penso na possibilidade de ter uma bolsa. Talvez a consiga, talvez não. O certo é que a bolsa que me deram no 10º ano já está em metade e é uma ninharia quanto mais o preço da propina. Se me derem a bolsa, não posso esquecer o passe para o metro, comer fora de casa e livros e fotocópias, que pelo converso com amigos são às resmas. Continuo a pensar, valerá a pena o sacrifício? E depois, se tudo correr muito bem e eu conseguir fazer o curso? Que portas se irão abrir para mim neste país? Os jornais dizem que nunca houve tanto desemprego como agora. O governo diz que devemos emigrar. Os professores não sabem se amanhã terão trabalho. As indústrias fecham. As lojas fecham. O estado não emprega. Quantos informáticos terão emprego no futuro? Quantos somos neste pais? Quantos licenciados? Quantos jovens?
Terei 23 anos. Não saberei o que fazer com o diploma. Trabalharei numa caixa de supermercado se entretanto os mesmos não continuarem a despedir. Não saberei para que serviu o meu esforço e o esforço da minha família por tanto tempo. No final serão 17 anos de estudo. Para me animar a fazer esse esforço penso que SE aparecer uma oportunidade estarei preparado. Mas esse SE é tão distante neste momento…
Tenho 18 anos e tenho muitas dúvidas. Que será de mim? De nós? Que hei-de fazer? Abandonar já o país em busca de uma vida melhor? Esperar? Que esperança há aí para mim e para outros tantos como eu? Que esperança nos dão de podermos ter oportunidades? Quem nos deve dar respostas? Desconfio que são aqueles que nos tiram a esperança no futuro e isso deixa-me a pensar. Que país é este em vivo os meus 18 anos? Penso. Suspiro.
imagem retirada da net
Nos dias mais tristes ainda choro Agarrada às lembranças do passado Finjo que me vou mas não demoro A voltar para onde tenho estado Tenho estado na casa da saudade A viver uma vida sem sentido Onde a dor que sinto é de verdade O riso as vezes um pouco fingido Um pouco fingido porque custa rir Quando se sente a falta do amor Falta de um doce carinho sentir De um abraço dado com ardor Dado com ardor, dado com desejo Um abraço terno e carinhoso Um toque suave, um doce beijo Terno momento, maravilhoso Maravilhoso e incomparável É amar e ser amada intensamente Desejar alguém, ser desejável E querer a alguém profundamente Profundamente foi como amei Um dia alguém na minha vida Quem foi esse amor eu já não sei É apenas umas lembrança querida Uma lembrança querida é amar Esse sentimento tão nobre e doce Que eu queria voltar a tentar Por mais um minuto que fosse… Magnólia 13-08-08
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi