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É verdade, há uma parte da felicidade que se aprende e nem sequer é preciso ir à escola. Aprende-se no dia a dia entre risos e sofrimento, entre filhos e amigos, entre gente simples e a natureza. Aprende-se vivendo. Há uma parte da felicidade que é feita de momentos tão simples como um raio de sol que entra pela janela, ou uma borboleta que volteia numa flor ou numa criança que nos sorri sem nos conhecer. Há momentos em que olhamos à nossa volta e percebemos a sorte que temos por termos nascido num pais onde não há guerra, onde existem jardins em vez de campos de minas e os nossos filhos saem à rua com uma bola na mão e não com uma arma. A felicidade aprende-se no dia a dia, quando nos damos conta que a montanha de roupa para passar não é uma seca, é uma bênção porque há quem ande nu e que a chatice de cozinhar é uma coisa maravilhosa porque temos com que o fazer. A felicidade não tem que ser grandiosa, não tem que nos fazer pular em praça pública, é antes serena e tranquila. É um sentimento que nos invade e aquece o nosso intimo, nos faz sorrir com a certeza que tudo está bem e nos seus devidos lugares. É um sentimento de gratidão para com ninguém em especial por sermos quem somos, por termos na vida quem temos. É uma sensação maravilhosa de paz de espírito que nos torna mais leves que as penas das aves do paraíso. A felicidade aprende-se cada dia mais um bocadinho. Às vezes esquecemos isto tudo por momentos, mas não é grave desde que seja mesmo só por breves momentos e no fim consigamos sentir de novo que somos capazes de ser felizes.
Há outra parte que não depende de nós. É aquela parte que depende da sorte em que vamos tropeçando. Sobre essa não temos controle, mas não faz mal, porque já temos a outra parte, aquela que está dentro de nós, onde ninguém a pode ir buscar e destruir. Se de vez em quando conseguirmos ter as duas, então somos mesmo muito, muitos sortudos e devemos aproveitar ao máximo esse tempo de sorte, porque é raro. E como tudo o que é raro, é precioso!
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Tem dias que não penso muito nisso. Tem outros que sim. Penso no dia que me casei, cheia de sonhos, cheia de planos. Penso que já nesse dia devia saber que não daria certo. Como um aviso ou premonição as lágrimas correram-me dia e noite nos dias que antecederam o casamento. No próprio dia não me apetecia acordar ao contrario de todas as noivas que já conheci. Queria ficar ali mais um pouco no aconchego dos lençóis. E no entanto, eu queria tanto, mas tanto aquele dia, casar com o homem que amava, passar a estar com ele dia e noite sem precisar de fugir de ninguém.
Casei por amor. Apenas por amor, com 19 anos e uma mala cheia de sonhos. Mudamo-nos para a casa nova apenas com a roupa do corpo, um colchão e uma vontade enorme de sermos felizes. E fomos, alguns dias, depressa a realidade se a abateu sobre nós, sobre mim. Creio que ele nunca pensou nas coisas da mesma forma que eu. E não podia, porque nesta equipa eu era o elo mais fraco. De forma que era mesmo impossível ele sentir as coisas como eu as sentia. Gostava tanto dele, mas tanto. Estava cega de amor. Era o meu sol, o centro das minhas atenções. E foi assim durante muito tempo, tanto que já nem me lembro. Vivia como uma prisioneira na minha própria vida, no meu próprio casamento, nos meus próprios sentimentos, no amor enorme que lhe devotava. Mesmo depois, quando vieram os filhos, era a mesma coisa. Eu amava tanto, queria tanto que resultasse, mas não, não resultava e era infeliz. Lembro-me de tantas, tantas vezes que chorei e de tão poucas que fui feliz. E não, não é um exagero, uma forma de dramatizar a história. Entre ciúmes e a falta de dinheiro, entre a falta de atenção e a falta de estabilidade, a minha vida era um caos. E eu não conseguia, e na verdade durante algum tempo nem queria fugir desse caos.
Um dia por qualquer motivo oculto apercebi-me que não era aquela vida que queria. Não me lembro desse dia, lembro-me apenas que um dia a certeza de que não era aquilo que queria chegou e tudo ficou claro. Desde esse dia que tive a certeza que o caminho seria traçado por mim, doesse a quem doesse. E doeu, e muito, e a muita gente. Mas teve que ser.
Fiz de conta que era forte e comecei a traçar um caminho. Nem sempre consegui caminhar exactamente por esse caminho, mas tentei ser fiel a mim. Tentei ser feliz, tentei fazer os meus filhos felizes. Olhei mais longe, mais longe que a linha do horizonte e percebi que as vezes é preciso caminhar sobre espinhos até poder caminhar sobre rosas.
Há dias que não penso nisso, mas há outros que penso e muito, porque foram muitos anos da minha vida que não me lembro de viver. Lembro-me apenas de funcionar, de respirar, de comer, de trabalhar, de ser esposa, de ser mãe, mas não me lembro de ser pessoa.
Magnolia
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi