imagem retirada da net
Se havia coisa que eu adorava quando ainda mal sabia ler e escrever, era que o meu pai me deixasse abrir as folhas dos livros com uma pequena faquinha da cozinha. As páginas vinham ainda agarradas umas às outras e era preciso separá-las com cuidado para que não se estragassem. Passaram-se talvez trinta anos e ainda consigo sentir o cheiro característico do papel. Cheirava a natureza, a seiva das árvores, a desconhecido, a sonhos escondidos em si. Lembro esse cheiro com saudade, muita saudade…
Depois, lembro-me dos domingos à tarde, em que a minha mãe se sentava à porta da sala, ao sol, a bordar vestidinhos à florzinhas e o meu pai saia para a ver o futebol e eu me sentava no chão da sala a ler os livros do meu pai à socapa, olhando pelo canto do olho, não queria ser surpreendida a mexer nos livros que não eram para a minha idade…
As férias grandes de verão queriam dizer leitura e não praia. Passava tardes inteiras no terraço da minha avó a ler, deitada no chão de barriga para cima. Lia livros de uma assentada, e lia e relia os mesmos livros, as mesmas colecções vezes sem conta. Participei em todas as aventuras dos cinco e dos sete da Patrícia e dos irmãos Hardy e muitos outros que já não me lembro…
Nos dias que dormia na casa da minha avó, assaltava a colecção de livros de cowboys do meu tio, banda desenhada a preto e branco e lia até cair de cansaço.
Assim que me foi permitido ser sócia da biblioteca, comecei a trazer tudo o que podia e lia nas noites de insónia até de madrugada. Li até quase se esgotarem as possibilidades. Li Pessoa, li Virgílio, li Gabriel Garcia Marquez, li Eça, li Camilo, li kundera, e muitos, muitos outros. Li tanto e tanto que já não me lembro de nomes de autores nem obras, pois seria impossível albergar nesta cabeça todos os livros que já li, todos os livros que já fizeram parte da minha vida. Se fosse um balão acabaria por rebentar. O que é pena. Deveríamos conseguir lembrar com detalhe todos os livros que lemos, todas as histórias, sentimentos, paixões, ensinamentos neles contidos…
O livro tem-me acompanhado sempre ao longo da minha vida. Gosto de os ter, mas acima de tudo gosto de saber que o está lá dentro. De aprender. De não aprender. De apenas rir. De chorar. Gosto da companhia. De saber que nunca estarei só desde que traga um livro na mão.
Longa vida para os livros tal como os conhecemos!
...não sei se repararam mas....o meu nome é o único que não tem um Dr atrás!!! Estou em desvantagem numérica... ai, ai...
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi