Será que se comemora na mesma o aniversário de uma coisa que já não existe? Ontem seria o meu aniversário de casamento, se ainda houvesse casamento! Ou será que fiz na mesma o aniversário? O acontecimento deu-se na mesma... Só que entrentanto ao ano 12 foi desfeito...mas isso não quer dizer tenha apagado o acontecimento. Hummm.... será a mesma coisa que mandar celebrar missas pelo nascimento de alguém que já morreu???? :////
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Faz hoje 16 anos que estava a preparar-me para um dos grandes momentos da minha vida. Estava vestida de rosa e tinha um ramo de lindas rosinhas cor-de-rosa. Vestida de noiva aguardava o meu mais que tudo. Meteu-se-me na cabeça que ele podia não aparecer pelo que combinamos fazer uma coisa diferente: fomos juntos para a capela e entramos juntos também. Também foi uma forma de evitar situações constrangedoras, uma vez que a minha relação com o meu pai não era boa, muito pelo contrário. Faz hoje 16 anos que casei, absolutamente apaixonada, completamente decidida a ser feliz. Apesar de hoje já não estar casada e por tanto não fazer anos de casada, a data continua a ser memorável. Casei apaixonada, tive dois filhos lindos, amei, fui amada, tudo isso valeu a pena, por isso recordo todos os anos esta data, assim como a data em que o conheci, a data em que começamos a namorar, todas essas coisas são importantes e fazem de uma historia de vida, a minha história.
Tem dias que não penso muito nisso. Tem outros que sim. Penso no dia que me casei, cheia de sonhos, cheia de planos. Penso que já nesse dia devia saber que não daria certo. Como um aviso ou premonição as lágrimas correram-me dia e noite nos dias que antecederam o casamento. No próprio dia não me apetecia acordar ao contrario de todas as noivas que já conheci. Queria ficar ali mais um pouco no aconchego dos lençóis. E no entanto, eu queria tanto, mas tanto aquele dia, casar com o homem que amava, passar a estar com ele dia e noite sem precisar de fugir de ninguém.
Casei por amor. Apenas por amor, com 19 anos e uma mala cheia de sonhos. Mudamo-nos para a casa nova apenas com a roupa do corpo, um colchão e uma vontade enorme de sermos felizes. E fomos, alguns dias, depressa a realidade se a abateu sobre nós, sobre mim. Creio que ele nunca pensou nas coisas da mesma forma que eu. E não podia, porque nesta equipa eu era o elo mais fraco. De forma que era mesmo impossível ele sentir as coisas como eu as sentia. Gostava tanto dele, mas tanto. Estava cega de amor. Era o meu sol, o centro das minhas atenções. E foi assim durante muito tempo, tanto que já nem me lembro. Vivia como uma prisioneira na minha própria vida, no meu próprio casamento, nos meus próprios sentimentos, no amor enorme que lhe devotava. Mesmo depois, quando vieram os filhos, era a mesma coisa. Eu amava tanto, queria tanto que resultasse, mas não, não resultava e era infeliz. Lembro-me de tantas, tantas vezes que chorei e de tão poucas que fui feliz. E não, não é um exagero, uma forma de dramatizar a história. Entre ciúmes e a falta de dinheiro, entre a falta de atenção e a falta de estabilidade, a minha vida era um caos. E eu não conseguia, e na verdade durante algum tempo nem queria fugir desse caos.
Um dia por qualquer motivo oculto apercebi-me que não era aquela vida que queria. Não me lembro desse dia, lembro-me apenas que um dia a certeza de que não era aquilo que queria chegou e tudo ficou claro. Desde esse dia que tive a certeza que o caminho seria traçado por mim, doesse a quem doesse. E doeu, e muito, e a muita gente. Mas teve que ser.
Fiz de conta que era forte e comecei a traçar um caminho. Nem sempre consegui caminhar exactamente por esse caminho, mas tentei ser fiel a mim. Tentei ser feliz, tentei fazer os meus filhos felizes. Olhei mais longe, mais longe que a linha do horizonte e percebi que as vezes é preciso caminhar sobre espinhos até poder caminhar sobre rosas.
Há dias que não penso nisso, mas há outros que penso e muito, porque foram muitos anos da minha vida que não me lembro de viver. Lembro-me apenas de funcionar, de respirar, de comer, de trabalhar, de ser esposa, de ser mãe, mas não me lembro de ser pessoa.
Magnolia
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A sala enche-se de luz e cor, aos pouco tudo toma o seu lugar. As toalhas e organzas nas mesas, em cima pratos, talheres, velas e flores. Na hora os noivos entram, belos, felizes, deslumbrados. Um sorriso rasgado mostra toda a esperança que depositam no futuro. Na hora de partir o bolo os noivos brilham de felicidade. Juntos entram na sala debaixo das luzes trémulas das tochas, a musica envolve todos os presentes na magia do momento. Param perante o bolo de noiva. Vem com toda a inocência de quem não sabe o que o futuro lhes reserva, mas também de quem traz todas as esperanças do mundo no companheiro. O brilho do momento ofusca tudo e todos. Os noivos estão ali, perante todos, a mostrar que se querem e que querem ser felizes um com o outro. Olham-se nos olhos e o brilho é intenso, e sabemos que não é apenas o tremeluzir das chamas. É o brilho da esperança, da ilusão, da felicidade, do amor.
Já vi alguns nos últimos dias e é sempre neste momento que fico com um aperto no peito. Também eu já me casei. Não com este glamour, mas com estas esperanças, esta ilusão no amor. E afinal, não durou para sempre. O que sinto agora no momento em que vejo estes casais é um paradoxo. Um misto de alegria e tristeza. Desejo que sejam muito felizes, mas nunca deixo de pensar que começam ali a traçar um caminho de amarguras….Eu sei, sou eu que estou amarga. Sou eu a desiludida e há aí muitas pessoas que continuam casadas e felizes.
É também nesse momento que sinto a falta de um carinho de alguém que goste de mim. É nesse pequeno grande momento que sinto que queria alguém que me olhasse nos olhos e derramasse em mim toda a ternura do mundo. Que me enlaçasse pela cintura e me protegesse das angustias da vida. Nesses momentos sinto uma dor fininha que atravessa o meu corpo de alto a baixo, um aperto no peito, os olhos ficam humedecidos. É apenas um momento, uma fracção de segundo mas devastadora…
Felizmente, há tanto que fazer que no momento seguinte já não há tempo para divagar, quase nem dá tempo para respirar, quanto mais divagar…
E ainda bem, porque não suportaria viver sempre com estes pensamentos…
Magnólia em divagações
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi