Emoções para a Fábrica de Histórias
Depois de uma longa década estava de volta à sua querida cidade, Paris. Parecia-lhe quase impossível que estivesse a calcorrear de novo aquelas ruas, a ver os edifícios seus velhos conhecidos, as árvores frondosas dos jardins. Sentiu a nostalgia atacá-la em força e fechou os olhos, respirou fundo. Caminhou ligeira pelas ruas atapetadas de folhas pintadas com as cores do Outono, e chegou ao local marcado, o café onde passaram juntos tantas horas. Sentou-se e esperou. Não tirou o pequenino chapéu que se habituara a usar agora e de acordo com as novas modas. Tinha-lhe escrito a dizer que vinha. Não esperara resposta, apenas marcara o dia e vagamente uma hora e apanhara o avião. Agora ali estava, a tomar um chá de camomila e a tentar controlar a ansiedade crescente. Olhou o relógio e já passavam dez minutos da hora que dissera. Talvez não viesse. Talvez tivesse casado, estivesse feliz. Que direito tinha ela de lembrar velhas histórias, velhos sentimentos? Estava quase arrependida de ter dito que vinha. Mas também não tinha mal dizer olá, ver se estava bem. Não iria fazer nada de errado. Seria apenas um encontro de velhos amigos. Era normal visitar um amigo que não via há dez anos. Ou não seria? Olhou mais uma vez o relógio e as horas pareciam avançar devagar. O chá estava frio. Pediu outro. Na verdade devia comer alguma coisa mas o seu estômago estava contra essa ideia. Totalmente contra. Bebeu mais um gole de chá e uma ideia passou-lhe pela cabeça. E se ele não tivesse recebido a sua carta? Às vezes as cartas extraviam-se. Porque não a sua? Se assim fosse ele não teria ideia nenhuma de que ela estaria ali, naquele momento, à sua espera. Talvez fosse isso. Era uma boa explicação. A melhor de todas. Sorriu, mas contrariada. Era um absurdo estar ali sem saber se a pessoa recebera o recado. Não podia ser isso. Era uma coincidência fantástica que uma carta a avisar que vinha passar uns dias num outro país, tão longe de casa, se perdesse. Precisamente essa e não outra, como uma conta da luz ou da água. Não podia ser. Mas então porque não viria? Ela olhava para a porta. O segundo chá estava no fim e a noite caíra agora. Estava cansada e doía-lhe a alma mais do que as costas de estar ali sentada numa cadeira de madeira desconfortável. Talvez a verdade é que não a quisesse ver. Talvez estivesse ainda magoado com ela. Ou talvez zangado. Ou talvez já nem se lembrasse dela. Poderia ser? Esquecer alguém que se amara tão intensamente? Ela tinha a certeza de que ele a tinha amado muito. Tinha certeza de que tinham sido o amor da vida um do outro. A culpa tinha sido dela. Tinha fugido, espavorida, com medo da vida. Ou medo de ser feliz. Voltara a sua terra para esquecer aquela relação tão intensa como maravilhosa que a tinha feito viver os seus anos mais loucos. Tinha a certeza de que ele também sentira assim. Não acreditava que agora, mesmo com o coração já frio de amores e as carnes mais velhas não sentisse vontade de a ver. Nem que fosse só a curiosidade de ver se mudara. Mas a porta da rua ainda não se abrira. Continuava teimosamente quieta, por muito que olhasse para ela. Levantou um dedo acompanhado de um garçon, s’il vous plaît e atrás de si pode ouvir perfeitamente o som da porta a abrir-se…
Por Cláudia Moreira
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi