Tem dias que não penso muito nisso. Tem outros que sim. Penso no dia que me casei, cheia de sonhos, cheia de planos. Penso que já nesse dia devia saber que não daria certo. Como um aviso ou premonição as lágrimas correram-me dia e noite nos dias que antecederam o casamento. No próprio dia não me apetecia acordar ao contrario de todas as noivas que já conheci. Queria ficar ali mais um pouco no aconchego dos lençóis. E no entanto, eu queria tanto, mas tanto aquele dia, casar com o homem que amava, passar a estar com ele dia e noite sem precisar de fugir de ninguém.
Casei por amor. Apenas por amor, com 19 anos e uma mala cheia de sonhos. Mudamo-nos para a casa nova apenas com a roupa do corpo, um colchão e uma vontade enorme de sermos felizes. E fomos, alguns dias, depressa a realidade se a abateu sobre nós, sobre mim. Creio que ele nunca pensou nas coisas da mesma forma que eu. E não podia, porque nesta equipa eu era o elo mais fraco. De forma que era mesmo impossível ele sentir as coisas como eu as sentia. Gostava tanto dele, mas tanto. Estava cega de amor. Era o meu sol, o centro das minhas atenções. E foi assim durante muito tempo, tanto que já nem me lembro. Vivia como uma prisioneira na minha própria vida, no meu próprio casamento, nos meus próprios sentimentos, no amor enorme que lhe devotava. Mesmo depois, quando vieram os filhos, era a mesma coisa. Eu amava tanto, queria tanto que resultasse, mas não, não resultava e era infeliz. Lembro-me de tantas, tantas vezes que chorei e de tão poucas que fui feliz. E não, não é um exagero, uma forma de dramatizar a história. Entre ciúmes e a falta de dinheiro, entre a falta de atenção e a falta de estabilidade, a minha vida era um caos. E eu não conseguia, e na verdade durante algum tempo nem queria fugir desse caos.
Um dia por qualquer motivo oculto apercebi-me que não era aquela vida que queria. Não me lembro desse dia, lembro-me apenas que um dia a certeza de que não era aquilo que queria chegou e tudo ficou claro. Desde esse dia que tive a certeza que o caminho seria traçado por mim, doesse a quem doesse. E doeu, e muito, e a muita gente. Mas teve que ser.
Fiz de conta que era forte e comecei a traçar um caminho. Nem sempre consegui caminhar exactamente por esse caminho, mas tentei ser fiel a mim. Tentei ser feliz, tentei fazer os meus filhos felizes. Olhei mais longe, mais longe que a linha do horizonte e percebi que as vezes é preciso caminhar sobre espinhos até poder caminhar sobre rosas.
Há dias que não penso nisso, mas há outros que penso e muito, porque foram muitos anos da minha vida que não me lembro de viver. Lembro-me apenas de funcionar, de respirar, de comer, de trabalhar, de ser esposa, de ser mãe, mas não me lembro de ser pessoa.
Magnolia
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi