imagem retirada da net
Quando eu era ainda uma miúda de saia de peito e frizestes no cabelos ganhei medo ao Carnaval. Medo não é a palavra mais adequada, era na verdade mais um terror desmesurado dos Entrudos. Quando era ainda uma miúda de tranças e laços no cabelo, o Carnaval queria dizer que nos viriam bater à porta pessoas de sexo indefinido, muitos velhos, parecendo muito sujos, de máscaras muito feias a cobrir a cara, todos muito mudos num silêncio aterrador, mãos no ar e lenços de velha na cabeça. No meu tempo, ainda antes de ir aprender a ler, não havia gente pouco vestida a dançar nas ruas nem mascaras de princesa, de boneca ou de homem aranha. Quando chegava o Carnaval eu sabia que mais tarde ou mais cedo eles haviam de aparecer a espreitar por entre as heras que cobriam o muro do quintal da minha avó, depois iriam forçar o pequeno portão, parecendo mesmo que me viriam apanhar. Os Entrudos, para mim gigantes, que espreitavam por entre as heras vinham aos dois ou três e às vezes até mais e corriam o bairro todo a bater às portas, a coxear, a brandir vassouras, paus, panelas e outros objectos de natureza mais ou menos estranha. Nesse dia, não havia brincadeiras na rua com o resto da criançada pois eu só queria era que o dia passasse depressa e chegasse a noite. Eu sabia que quando ela chegasse aqueles seres maléficos, que por causa da minha pouca ididade, eu nem sabia que eram gente, haveriam de ir embora para só voltar dali a um ano.
Talvez por isto, ainda hoje, dispenso bem esta loucura foliona e carnavalesca que se instala em todo o lado.
cláudia moreira
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi