Desde que me lembro de mim própria que me vejo rodeada de livros. Fazem e sempre fizeram parte integrante de mim. Ler é como respirar, comer, amar, faz parte da minha vida. Quando era pequena lia a socapa os livros de crescido do meu pai. Ele, tal como eu, é um apaixonado pelos livros. Acho que é essa a herança que o meu pai me deixou, o gosto pelos livros e pela leitura. A melhor, muito melhor do que dinheiro ou posição social. Nessa altura não me era permitido tocar nos livros dele, por isso lia-os as escondidas. Quando sabia que estava sozinha em casa corria para a estante e sentava-me no chão com o livro no colo. Ficava atenta a todos os ruídos com medo que ele viesse e me apanhasse em flagrante delito! Lembro-me que um dos livros que mais me marcou foi o Dr. Jivago de Boris Pasternak . Li-o com avidez, absorvendo a história fantástica de Larissa e Iuri , até hoje continua a ser um dos meus livros preferidos. Depois disso já o reli mais do que uma vez, e embora agora o possa perceber bem melhor, a primeira vez teve um sabor muito especial. Teve o sabor da descoberta, da traquinice e da leitura de um livro fantástico.
As tardes de verão das ferias grandes. Que nostalgia! Passava os dias na casa de minha avó materna e as tardes eram sempre dedicadas as leituras, tardes solarengas de Agosto, passadas no terraço de uma casa de aldeia, onde só os pássaros e as abelhas se faziam ouvir. Deitava-me de costas olhando o céu muito azul, livro na mão, lia horas seguidas, parando apenas para lanchar pão com doce de tomate feito pela minha avó ou broa acabada de cozer com manteiga a derreter. Que delicia de tempos! Creio que nessa altura li e reli todos os livros de aventuras dos “Cinco”. Vivia intensamente todas as aventuras, estava lá com eles. Os livros tem esse poder sobre mim, transportam-me
Depois comecei a ir a biblioteca municipal. Era uma biblioteca antiga, de tectos altos, decorada com arabescos e veludos vermelhos. As portas rangiam e o cheiro a papel velho inebriava-me. Li quase todos os livros disponíveis para empréstimo. Houve um momento em que já estava a ler de novo os mesmos livros. Foi nessa altura que me familiarizei com os grandes nomes, Pessoa, Eça, Virgílio, Camilo, Huxley , hemingway , e tantos, tantos outros…lia compulsivamente, ficava ate de madrugada a ler, sem que o sono chegasse.
Desde sempre que ando com um livro na carteira, tem sido sempre meu companheiro de viagens. Grandes ou pequenas. Leio no café, leio na praia, leio na fila do banco.
Na minha mesinha de cabeceira tenho sempre um monte de livros. Quando digo monte é mesmo um monte, nunca menos de cinco ou seis livros. Neste momento tenho lá de tudo um pouco. August Cury , António Lobo Antunes, Maria João Lopo de Carvalho, Marta Gautier , Maria Filomena Mena …não consigo viver sem eles. Sãos os meus companheiros de insónias, de choradeiras noite dentro, de risos escondidos no edredão para os miúdos não me ouvirem…
O meu sonho é ter uma grande biblioteca. Não uma biblioteca de livros ricamente encadernados, mas sim um escritório só meu, de paredes forradas a estantes, livros multicores e tamanhos. Um sitio que cheire a papel velho e a papel novo. O que se vir das paredes será amarelo claro. No tecto vou pendurar um candeeiro a lembrar as salas das tertúlias de Pessoa, uma mesa grande de madeira clara fará de secretaria mesmo ao lado de uma grande janela de onde se vê o mar. um ramo de uma magnólia irá baloiçar em dias de vento e em dias de sol fará uma sombra discreta na secretaria.
Um dia vou escrever um livro. Ainda não sei sobre o que vai ser. Mas vou escreve-lo. Estará nas prateleiras das livrarias e eu vou lá passar só para ter a satisfação de ver lá o meu nome e saber que realizei um sonho. Este sonho começou há muitos anos atrás, mais de vinte ano atrás. É estranho como uma pequena frase de incentivo nos pode fazer acreditar que somos capazes. Devia ter cerca de 11 anos e estava no ensino preparatório. Era suposto escrever uma frase sobre o livro que estávamos a estudar em português, era a raposa salta-pocinhas, eu em vez de escrever uma frase escrevi um texto enorme! Mas para meu espanto a professora elogiou-me e disse que eu tinha um talento para escrita. Foi mesmo ai nesse momento que eu comecei a sonhar em escrever um livro e publica-lo.
Tenho escrito tanto! A escrita tem feito sempre parte da minha vida, até nos maus momentos. Num determinado momento do passado em que me senti muito deprimida, era ao papel que eu confessava todas as minhas angústias. Escrevi centenas de páginas sobre as minhas dúvidas, tristezas, angustias e amarguras. Levava um caderno comigo para onde quer que fosse. Ia para a esplanada do café e sentava-me a escrever, tomar café e fumar um cigarro. Passava para o papel o meu estado de espírito, tentava assim exorcizar todos os meus fantasmas. Ainda hoje conservo esses cadernos como tesouros, ai estão escondidos todos os maus sentimentos da época, bem fechados para que não fujam e voltem a assombrar os meus dias. São os cofres das minhas angustias passadas.
"O oposto da solidão não é estar juntos. É a intimidade."
Fernão Capelo Gaivota - Richard Bach
Como fazer um miúdo de catorze anos compreender a importância da escola? Eu já tentei de todas as formas, esgotei todas as minhas capacidades argumentativas. A adolescência pode ser algo terrivelmente assustador para os filhos e para os pais. Os filhos porque vivem este período conturbado de descoberta na certeza que sabem tudo o que estão a fazer, e que tudo irá sair conforme os seus planos de meninos e os pais porque vivem este período com o coração nas mãos, à espera que os filhos saem ilesos deste período negro.
A escola é das maiores dores de cabeça. Os miúdos julgam que não serve para nada, que é muito mais importante jogar com os amigos on-line, Que a escola é uma grande seca, que os pais são uma grande seca e que os professores não sabem ensinar e são uma seca...
Eu já discursei, já expliquei, já dei o exemplo com os meus próprios estudos. Já lhe pintei o quadro da vida dele num futuro em que ele não tenha estudado. Já lhe mostrei as diferenças entre arranjar um trabalho com estudos e um trabalho sem estudos...mas ele parece não compreender. Em ultima instancia tentei fazer-lhe ver que tudo o que aprendemos hoje, nalgum ponto do tempo no futuro terá uma aplicação , fará jeito, mas nem assim...
Sou mãe de uma adolescente de catorze anos e estou a entrar em desespero!!
ideias...estou a aceitar ideias!!
Hoje vinha de carro e parei num semaforo vermelho. Olhei pelo espelho enquanto esperava e a luz de um inicio de tarde primaveril foi reveladora: cabelos brancos que brilham! Meu Deus, o meu filhote tem razão: estou cota!!!!!
A minha ideia inicial era fazer deste blog um diário . Um lugar onde pudesse desabafar os meus problemas, alegrias, dramas, falar de tudo e de coisa nenhuma. De cada vez que me sento para escrever assim, não consigo. Porque me sinto como se fosse tirar a roupa em frente a toda a gente. Porque me sinto como se fosse revelar um enorme segredo. Por isso tenho escrito apenas coisas que se podem dizer a toda a gente. Mas pelo que tenho visto navegando na blogosfera , muita gente consegue fazer o que eu queria fazer. Consegue mesmo ter leitores assíduos , fazer amigos, interagir uns com os outros. Fico contente que se consigam estas coisas neste mundo virtual que tanto assusta as pessoas hoje em dia. E eu...vou continuando a escrever coisas, apenas coisas dispersas, nem com muito interesse, nem sem nenhum, que tudo o que se lê pode trazer algo de novo a nossa vida, por muito pequeno que seja...
No outro blog (http://pessoasepoetas.blogs.sapo.pt ) optei por escrever apenas a minha modesta poesia. Mas parece que não é coisa muito vista:))
Em todo o caso já vi que tenho leitores, poucos, mas tenho e a esses: muitíssimo obrigada:))
Bom fim de semana para todos !!
Montes de beijinhos
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi