Depois de muitas horas a pensar no OE 2011, no cortes orçamentais, no futuro negro que me espera, de ouvir falar do assunto em casa, no trabalho, na rádio, na televisão, nos jornais, na rua, nos blogs, no café, na caixa do PG estou cansada. Por isso vou fazer uma pausa. Respiro fundo. Procuro a página do youtube a minha música favorita do Jamie e deixo os meus dedos passearam pelo teclado deixando os meus pensamentos sem freio. Preciso de sonhar um pouco. Deixar a mente voar até um sitio longínquo que já conheço bem. Em tempos era o meu local favorito para estar. era mesmo o lugar onde gostaria de terminar os meus dias. é tão fácil de lá chegar...aterro perto de uma vila onde as pessoas realmente sorriem e depois me dizem bom dia, as mulheres acenam e os homens tiram o chapéu enquanto inclinam ligeiramente a cabeça. no ar há o cheiro das flores e no céu pássaros felizes voam sem receio. Subo uma pequena vereda onde a madressilva liberta um perfume difícil de copiar e em breve consigo ver o velho portão de ferro. A tinta negra há algum tempo que deixou de parecer mesmo negra e aqui e ali a ferrugem já tomou conta do ferro. Antes de lá chegar já consigo ouvir o ranger que fará ao abrir. É um som tão familiar que me faz sorrir, é como se dissesse: bem-vinda a casa! Depois de o fechar são três passos certos até ao muro de pedra. É lá que me sento para finalmente descansar uns minutos antes de descer o altíssimo promontório que me separa das areias brancas da praia. são talvez mais de duzentos degraus até lá baixo, mas vale bem a pena. Olho o mais longe que posso e vejo azul até perder de vista, no mar e no céu. A linha do horizonte é apenas uma ténue linha tão longe que parece apenas uma miragem. Cheira ainda a madressilvas mas também a mar. É a ligeira brisa de Verão que traz os cheiros do mar até aqui acima. Atrás de mim sei que está a casa antiga caiada de branco com portadas pintadas de verde musgo. Por cima do pequeno pátio as videiras fazem alguma sombra a quem se quiser sentar na cadeira de vime. Parece que se estragou um pouco desde a ultima vez que cá vim. não faz mal, mais tarde ou mais cedo hei-de substitui-la por uma outra cadeira de ferro fundido que vi no antiquário na cidade. Depois de matar estas primeiras saudades abro o pequeno portão que me separa do miradouro e começo a descer as íngremes escadas até à praia. O vento leve balança-me o cabelo solto e faz-me cócegas nos ombros nus.
É tão bom a sensação de estar em casa...
Depois de uns longos minutos chego aos últimos degraus e, impaciente, salto para a areia. Tiro os sapatos e largo-os. Tiro o relógio e largo-o. Tiro o vestido e largo-o. A areia agora mais perto da água está húmida e consigo sentir a frescura que se liberta da rebentação das ondas. Na verdade liberto-me também da roupa interior. A praia está completamente deserta. É só minha! O cheiro intenso a maresia abre-me as fossas nasais e sinto uma frescura que me invade por dentro. Entro na água tépida do Mediterrâneo e fecho os olhos e sorrio e sou feliz. Nado um pouco e deixo-me estar ali, abraçada pela água, acariciada pelo sol. Sozinha. Tranquila. Serena. Feliz. Em paz.
Infelizmente não posso divagar mais tempo....há tarefas à minha espera, deveres de mãe, de dona de casa. A vida real é implacável, não nos dispensa mais que breves instantes.
Felizmente este lugar será sempre meu e poderei sempre regressar...
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi