Quando comecei a ler não tinha sequer lido a sinopse e não sabia o que me esperava. Não me refiro à qualidade da escrita da autora, nem sequer ao enredo da história, e não estou a pôr nenhum deles em causa, mas refiro-me sobretudo ao tema. Durante dias não fui capaz de tirar da cabeça a situação. Se fosse comigo o que faria??
Nesta história um casal tem dois filhos e aos dois anos é diagnosticada uma rara forma de leucemina à menina, a mais nova. Perante esta situação os pais ficam em pânico e tentam saber todas as formas possiveis e imaginárias para ajudar a filha. Quando percebem que todas as hipóteses normais estão esgotadas "fazem", literalmente, uma terceira filha em laboratório para que seja totalmente compativel com a filha doente. Supostamente seria apenas para usar as células estaminais do cordão umbilical e depois mais nada. Mas não foi assim, a doença foi teimando sempre em não se deixar vencer. E por isso a filha concebida para ajudar a irmã viu a sua vida condicionada pela da irmã todos os minutos da sua vida. Aos treze anos resolve pedir emancipação médica. Depois, no final, vemos que não foi de ânimo leve que o fez e muito menos o fez de forma egoista ou leviana...
...mas durante a leitura da história as dúvidas corroiem-nos a alma como ácido: podemos condenar esta miúda de apenas 13 anos por querer ter uma vida apenas dela? Por querer fazer todas as coisas que uma pessoa saudável faz e que assim está impedida porque não se pode magoar, ou porque está em pós-operatório ou porque está a tomar medicação para ser preparada para algum transplante? Será assim tão egoista querer ser uma simples miúda de 13 anos? Por outro lado como deixar de tentar todas as hipóteses quando vemos um filho a morrer? Mesmo que seja obrigar um outro filho que também amamos a viver em função desse filho doente? Será licito fazer alguém vir ao mundo apenas e só com o intuito de salvar uma outra pessoa? Podemos fazer de Deus nestas situações? Não são dois seres humanos com direitos iguais de vida, de saúde, de oportunidades, de escolha? Será justo fazer um filho carregar o fardo do remorso por querer ser livre mesmo sabendo que a irmã pode morrer? É demasiado pesado um sentimento dese género para qualquer ser humano: ser-lhe imposta uma determinada vida, desejar outra no íntimo e sentir-se terrivelmente egoista por lhe ter ocorrido esse pensamento... uma luta de titãs numa alma frágil de 13 anos...mas...
...e se fosse com um dos meus???
Já terminei de ler há uns dias e não tenho respostas....só tenho é mais dúvidas....
Sinopse
Os Fitzgerald são uma família como tantas outras e têm dois filhos, Jesse e Kate. Quando Kate chega aos dois anos de idade é-lhe diagnosticada uma forma grave de leucemia. Os pais resolvem então ter outro bebé, Anna, geneticamente seleccionada para ser uma dadora perfeitamente compatível para a irmã. Desde o nascimento até à adolescência, Anna tem de sofrer inúmeros tratamentos médicos, invasivos e perigosos, para fornecer sangue, medula óssea e outros tecidos para salvar a vida da irmã mais velha. Toda a família sofre com a doença de Kate. Agora, ela precisa de um rim e Anna resolve instaurar um processo legal para requerer a emancipação médica - ela quer ter direito a tomar decisões sobre o seu próprio corpo.
Sara, a mãe, é advogada e resolve representar a filha mais velha neste julgamento. Em Para a Minha Irmã muitas questões complexas são levantadas: Anna tem obrigação de arriscar a própria vida para salvar a irmã? Os pais têm o direito de tomar decisões quanto ao papel de dadora de Anna? Conseguimos distinguir a ténue fronteira entre o que é legal e o que é ético nesta situação? A narrativa muda de personagem para personagem de modo que o leitor pode escutar as vozes dos diferentes membros da família, assim como do advogado e da tutora ad litem, destacada pelo tribunal para representar Anna.