O silêncio eram as tardes de Verão na casa da minha avó quando eu era pequena. Tenho saudades do silêncio. Desse silêncio. Tenho saudades do silêncio ser silêncio. De passar horas calada a ler no sofá da casa da minha avó materna e de nada interromper esse sossego. Desse silêncio fazia parte o som calmante do frigorifico a trabalhar, uma ou outra mosca atrevida que tinha escapado ao olhar atento da minha avó e que passeava seu zzzZZZZZzzzz perto de mim e o tic-tac, tic-tac do relógio despertador que trabalhava sem nunca parar em cima da cómoda do quarto da minha avó. O silêncio. O silêncio já não existe. Dentro de nós uma barulheira infernal feita de stress, de correria, de falta de tempo. A rotina assassina que nos massacra e dilacera o interior. Preciso de silêncio para me ouvir de novo, para me encontrar. Preciso de saber quem sou. Sinto que me perdi algures no tempo entre a infância e os dias que correm... Precisava de voltar às tardes na casa da minha avó onde não havia trabalho, part-time, curso, contas, carro, casa, dinheiro, divórcio, problemas, solidão, tristezas e angustias... Infelizmente a casa da minha avó já não existe. Não há caminho de retorno.
Outras IDEIAS minhas
Ideias de outros que eu gosto de ler
- As conversas são como as cerejas
- As palavras que nunca te direi